Guga Stroeter

A vascilante ruptura com os preceitos do século XIX dividiu a humanidade de outrora entre aqueles que, aturdidos, renegaram furiosamente os novos costumes perpetrados pela urbanização, e outros que, mesmo deslocados, tentaram se adaptar à irreversibilidade da aceleração da vida cotidiana. Partes de um só processo decorrente da industrialização, a massificação e a fragmentação cultural tiveram a sua melhor tradução na democratização do acesso à música e na multiplicação de seus ritmos.

Guga Stroeter, herdeiro direto dessa nova identidade brasileira, contribui intensamente para a reformulação das possibilidades artísticas na transição de mais um século. Sua interpretação poética do Perspectivismo de Nietzsche recai sobre a sua própria concepção de vida: em suas atividades profissionais e em seus julgamentos críticos, mantém sua mente livre de valores preconcebidos, "olhando ora por essa janela, ora por aquela".

De maneira que sua formação como psicólogo foi somente o ponto de partida para a multiplicidade estética de suas experiências - instrumentista, compositor, arranjador, bandleader, produtor, diretor musical, dramaturgo e articulista -, reiterando a liberdade do artista que, conforme Sérgio Buarque de Holanda, "pode viver em mobilidade, sem que a vida, por isso, deixe de ganhar uma preciosa consistência". A verdade dessa declaração pode ser atestada através dos prêmios colecionados em quase quinze anos de intensa atividade - Sharp, APCA, Coca-Cola, etc. -, em dezenas de gravações e, principalmente, no reconhecimento internacional.

No início dos anos 80, o focalizamos como um dos anárquicos fundadores do grupo Sossega Leão, pioneiros na valoração dos ritmos caribenhos na metrópole paulistana, para, pouco tempo depois, o encontrarmos, simultaneamente, como um jazzista "cool" do Nouvelle Cuisine e um condutor arrebatado das cadências brasileiras na Orquestra Heartbreakers. O resultado da pesquisa sistemática de tal leque de ritmos o consagrou, através da Orquestra Maior, como promotor do mais popular ritual de comunhão e dissolução de tabus sociais do século XX, o baile, revitalizando, assim, a glorificação da dança por Paul Valéry:

Num mundo sonoro, retumbante e ritmado, a intensa festa do corpo diante da nossa alma oferece alegria e luz; qualquer coisa é solene, qualquer coisa é simples, tudo é vivo e forte, tudo é possível de um outro modo, tudo pode recomeçar indefinidamente.

 

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